Animais

Coisas de Elefante

Por Eduardo Kato, biólogo e professor de Gestão Ambiental do INPG

Um guarda-caça que atuou em diferentes parques de preservação da vida natural na África relata durante uma interessantíssima conversa tida anos atrás que em um dado segmento, uma estreita estrada em terra batida que costurava uma região de um dos parques nacionais de preservação existentes na África tangenciava uma restrita mata densa encrava na vasta savana do parque.

Diariamente, dezenas de turistas percorriam o parque em seus carros observando dezenas de diferentes animais soltos pelo parque.

Conta o guarda-caça, responsável pela bem estar destes turistas, que um grande elefante macho postava-se escondido em um ponto da mata à beira da estrada, escondido dos carros que passavam. Ao identificar carros menores passando, saia ameaçadoramente barrindo com as orelhas abertas e a cabeça levantada e parava no meio da estrada. Neste ponto ficava observando a reação dos passageiros e parecia divertir-se com todas aquelas caras assustadas. Depois de alguns segundos, abaixava as orelhas e tranqüilamente retirava-se até o lugar onde ficava novamente escondido esperando um segundo e um terceiro carro. Segundo o guarda caça, era comum este animal repetir regularmente este comportamento durante a semana, como se fosse uma espécie de divertido passa tempo, e mais, conta ele que percebia no olhar do grande animal uma especial satisfação e prazer.

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Neste mesmo parque, como é de costume, os grupos familiares de elefantes formados por até uma dúzia de animais (filhotes, fêmeas e machos jovens) liderados por uma experiente fêmea deslocavam-se procurando vegetais para sua alimentação regular.

Regras bem definidas estabelecem o comportamento básico entre estes animais. Elas ordenam os vários aspectos da vida regular dos grupos familiares de elefantes. Este comportamento parece considerar inclusive aspectos como a prudência e procedimentos relacionados com o ensino deste mesmo comportamento – por exemplo cedo os pequeninos filhotes são ensinados nunca se afastar das proximidades de suas mães.

Uma tarde, o grupo alimentava-se da vegetação de gramíneas próximo de um lago. Movido pela curiosidade, um dos pequeninos foi se deslocando sorrateiramente em direção ao lago. Percebendo o ato, sua mãe deu um barrido de advertência “Cuidado, não vá que é perigoso. Volte já !”.

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O filhote parou, mas provocado pela curiosidade (os elefantes gostam muito de mergulhar em águas calmas), foi até a beira do lago. Logo depois escorrega no barranco e cai dentro do lago. Imediatamente, a mãe corre até lá, seguida de uma outra fêmea mais jovem, uma “tia”. Rapidamente avalia a situação e decide “pescar” o desobediente com sua longa tromba.

A “tia” percebendo o nível de dificuldade da operação, posiciona-se atrás da mãe e segura firmemente uma de suas pernas traseiras. A mãe avança ao máximo sobre a beira do lago e retira o assustado filhote e o põe a salvo em solo firme.

Passado o susto, a “tia” retorna ao grupo enquanto a mãe “examina” o filhote com sua tromba para ver se “esta machucado”. Encontrando tudo em ordem, empurra o filhote em direção ao grupo que mantinha-se quieto e atento dando-lhe um forte empurrão com a tromba – “veja se aprende com a lição e volte já para seu lugar !”.

Impossível, não entender que animais sentem, gostam uns dos outros, pensam e sabem organizar suas vidas até considerando aspectos de prudência, coisa que muitos de nós humanos frequentemente perdemos de vista.

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