Independente de qual parte do Brasil é o leitor, é seguro afirmar que o nome “dengue” não deve ser desconhecido. A doença, na verdade, é conhecida no país há décadas, desde o século XX. A primeira vez em que a doença teve uma epidemia registrada, por exemplo, foi ainda no ano de 1982, em Boa Vista, Roraima. No entanto, antes disso, a doença já se alastrava no país e existem indícios de que, em 1916, São Paulo já teria vivido um surto da doença; enquanto um segundo período teria sido em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro.
No entanto, ainda que as datas não sejam tão claras, fato é que a dengue e o mosquito Aedes aegypti já são velhos conhecidos da população brasileira. Dor nos olhos, dor de cabeça, dor no corpo, irritação de pele, dor abdominal, desidratação, náuseas e febre são alguns dos principais sintomas – que podem ocorrer todos ao mesmo tempo, ou não.
Todos os anos, em períodos mais favoráveis para a reprodução do mosquito, assistimos surtos da doença. Aumento de casos, hospitalizações e até mortes já se tornaram “esperadas” – afinal de contas, não existe vacina e o clima brasileiro é muito convidativo para o mosquito, que se aproveita de qualquer poça d’água para se reproduzir.
O problema da dengue ter se tornado uma doença tão “comum” é que muitas pessoas já não se preocupam mais. A dengue, embora seja uma doença bastante desagradável, tem uma baixa mortalidade e isso acaba criando uma falsa sensação de segurança na maioria das pessoas. Mas por que essa sensação é “falsa”? O vírus da dengue, assim como todo outro vírus, evolui; o que significa que a doença também evolui – o que, consequentemente, significa que nem tudo é tão previsível.
Atualmente, o Brasil vive números expressivos da doença e entra em uma nova fase de conscientização. Após dois anos de pandemia da covid-19, uma boa parcela de nós parece ter passado a enxergar outras doenças com um olhar menos preocupado. Mas o que os números mostram? Segundo informações repassadas pelo Jornal Nacional, o Brasil já registrou mais de um milhão de casos de dengue apenas no ano de 2022. Em comparação ao ano anterior, esse número representa um salto de mais de 200%. Mas não para por aí: a doença já matou mais de 500 pessoas e esse número pode ser ainda maior. Atualmente existem 364 mortes suspeitas de dengue sendo investigadas.
E como se não fosse suficiente, uma pesquisa confirmou a identificação de uma nova cepa da dengue no Mato Grosso. Como é conhecido, a dengue se manifesta em quatro tipos (sorotipos) diferentes, dentre elas a mais grave, a chamada hemorrágica. No entanto, cada um desses sorotipos possui uma nova diversidade de linhagens. O sorotipo 2 possui seis linhagens conhecidas, dentre elas a “cosmopolita”, que já havia sido identificada em outras regiões anteriormente, inclusive em outros países que também vivem epidemias da doença.
Todos esses dados mostram que a dengue, por mais conhecida que seja, esta longe de ser inofensiva como muitas vezes nos deixamos levar a pensar.