Qualquer pessoa que consultar um médico sobre a importância do leite materno vai receber a mesma resposta: o bebê deve ser alimentado exclusivamente de leite materno em seus primeiros meses, especialmente nas primeiras semanas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas a partir do sexto mês de vida é recomendado que a criança comece na introdução alimentar, ainda evitando sólidos e optando pela famosa “papinha”.
O leite materno é fundamental para o desenvolvimento da criança porque contém nutrientes e anticorpos indispensáveis. Muita gente nem sequer sabe mas a lactante, num primeiro momento, produz o chamado “colostro”, um líquido que é comumente chamado de leite, mas contém maiores concentrações de proteínas e nutrientes, além de ser um canal através do qual a criança absorve os anticorpos fornecidos pela mãe após o rompimento do cordão umbilical. Apenas depois das primeiras semanas o leite materno se torna “leite”, como conhecemos.
Justamente por ser tão importante ao desenvolvimento do recém-nascido, o leite materno só deve ser substituído em casos muito específicos e incontornáveis. Tendo isso em mente, a descoberta feita por cientistas em Roma, na Itália, se torna ainda mais desconcertante. Detalhes sobre a pesquisa foram publicados na revista Polymers. A doutora Valentina Notarstefano, uma das envolvidas na pesquisa, falou sobre a importância do assunto ser levado a sério. “A prova da presença de microplásticos no leite materno aumenta nossa grande preocupação com a população extremamente vulnerável de bebês”, declarou ao The Guardian.
Para a pesquisa, os cientistas reuniram reuniram 34 mães e realizaram uma coleta cuidadosa do leite produzido por essas 34 voluntárias. Durante a coleta, os pesquisadores não usaram plástico de nenhuma espécie para evitar o risco de contaminação. O resultado foi assustador: em 75% das amostras coletadas, os cientistas encontraram vestígios de microplásticos, sendo eles: polietileno, PVC e polipropileno.
Reconhecendo a importância da amamentação com leite materno, Notarstefano destacou o quanto a descoberta não deve servir como desencorajamento para a amamentação de bebês. “Estudos como o nosso não devem reduzir a amamentação de crianças, mas sim conscientizar o público para pressionar os políticos a promoverem leis que reduzam a poluição“, declarou.
Mesmo com a descoberta sendo encarada como muito importante, a verdade é que cientistas ainda não sabem a extensão dos danos que esse tipo de contaminação pode causar. Ainda assim, mesmo diante do risco, ainda é muito mais benéfico que as crianças se alimentem de leite materno em seus primeiros meses. A ciência, por outro lado, continua se debruçando sobre o assunto para entender a extensão do quanto os microplásticos podem oferecer de risco e dano ao organismo humano.
Embora essa tenha sido a primeira vez que microplásticos são encontrados no leite humano, esta não é, de forma alguma, a primeira vez que a substância chama a atenção. Microplásticos já foram encontrados nas fezes humanas, em caules de planta, no sangue humano, placentas humanas, dentre outras muitas locações preocupantes. Os microplasticos, alertam os especialistas, são consequência direta do abusivo uso do plástico e seu descarte inadequado.
Os autores do artigo destacaram a orientação para que gestantes evitem comer alimentos embalados em plástico, bem como atenção ao uso de produtos de higiene, como pasta de dente. Os autores ainda ressaltaram a importância de que novos estudos sobre o tema continuem sendo desenvolvidos, especialmente para melhor compreensão do que essas substâncias podem gerar de sequelas ao organismo humano.