Desde o começo da pandemia, muita gente se agarrou ao fato de que a taxa de mortalidade da doença não é tão alta, levando em consideração médias proporcionais. Além disso, as falsas percepções de que o vírus não gerava riscos de morte a pessoas saudáveis, jovens e etc, também reforçavam uma falsa noção de segurança.
No entanto, torna-se cada vez mais evidente que enquanto não houver vacinação em massa, todo mundo corre risco. O vírus ainda esta sendo estudado e a verdade é que as descobertas não conseguem acompanhar o ritmo da destruição causado pelo coronavírus. Descobertas, aliás, que não param de surgir.
Uma das principais questões em relação à covid-19 sempre foram as sequelas. Pouco se sabia sobre essas sequelas, apenas se tinha a certeza de que muitos dos pacientes apresentavam algum tipo de problema posteriormente. Dezenas de pesquisas se desenvolveram nesse sentido.
Agora, um novo estudo sugere que a covid-19 traz riscos à mente, tanto do ponto de vista neurológico quanto do ponto de vista psiquiátrico. Um dos maiores estudos desse tipo, que avaliou mais de 230.000 pessoas nos Estados Unidos, descobriu que 1 em cada 3 sobreviventes do COVID-19 recebeu um diagnóstico neurológico ou psiquiátrico dentro de seis meses após ter a infecção.
As descobertas, publicadas no The Lancet Psychiatry, também confirmaram que os pacientes com COVID-19 são mais propensos a sofrer de doenças cerebrais em comparação com os pacientes que sofriam de outras doenças do trato respiratório.
O novo estudo analisou registros eletrônicos de saúde de 236.379 pacientes com COVID-19 dos EUA e comparou os resultados com dois outros dados: 105.579 pacientes com diagnóstico de influenza (gripe) e 236.038 pacientes com diagnóstico de qualquer tipo de infecção do trato respiratório.
Eles descobriram que 34% dos pacientes com COVID-19 foram diagnosticados com uma condição neurológica ou psiquiátrica dentro de 6 meses após a infecção. Para 13% desses pacientes, foi o primeiro diagnóstico neurológico ou psiquiátrico. As condições psiquiátricas mais comuns foram transtornos de ansiedade, seguidos por transtornos de humor, transtornos de abuso de substâncias e insônia. Embora os desfechos neurológicos tenham uma incidência mais baixa, foram relatados desfechos de hemorragia cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico e demência.
Comentando sobre os resultados do artigo, o professor Sir Simon Wessely, Cátedra Regius de Psiquiatria do King’s College London, disse:
Este é um artigo muito importante. Ele confirma, sem qualquer dúvida razoável, que COVID-19 afeta o cérebro e a mente em igual medida. Alguns já eram conhecidos – por exemplo, aumento das taxas de acidente vascular cerebral e também transtornos de ansiedade. Outros nem tanto – demência e psicose, por exemplo.
Levando em consideração idade, sexo, etnia e condições de saúde existentes, a pesquisa também descobriu que os pacientes com COVID-19 tinham um risco 44% maior de doenças neurológicas ou psiquiátricas em comparação com a gripe normal.
A respeito do estudo, se destaca o fato de ter sido uma pesquisa apenas observacional. Sendo assim, novas pesquisas devem ser desenvolvidas para tentar entender como o vírus age propriamente no corpo humano, ao ponto de causar consequências no cérebro. No entanto, fica claro que os pacientes afetados pela covid-19 apresentam maiores sequelas do que pacientes de outras condições respiratórias.
