Ciências

Anticorpos e a Felicidade

Por Luiz Lopez
Um artigo muito interessante foi publicado ano passado nos Estados Unidos estabelecendo uma ligação fascinante entre os nossos estados emocionais e a produção de anticorpos que nos imuniza contra doenças. Essa ligação foi estudada através de um experimento muito engenhoso.

Os pesquisadores já sabiam que uma maior ativação de uma determinada área do lado direito do cérebro (chamada córtex pré-frontal direito, veja a figura do cérebro a direita da página) estava associada a estados emocionais de depressão (“tristeza”). Além disso era sabido que quando estamos submetidos a estados emocionais fortes nossos olhos apresentam tremores musculares.

Eles então propuseram que um grupo de voluntários tentasse se lembrar e escrever a respeito dos momentos mais tristes de suas vidas enquanto monitoravam a ativação de seus cérebros e o grau de tremor dos olhos através de aparelhos. Verificaram então que algumas pessoas ativavam mais essa região do lado direito do cérebro (ligada a depressão) e tremiam mais os olhos do que outras quando se lembravam de coisas tristes.

Separaram então os voluntários em dois grupos: um grupo que ativava muito o lado direito do cérebro e sofria de tremores oculares mais intensos (e que estariam portanto mais sujeitos a depressão) e outro grupo que ativava mais o lado esquerdo quando pensavam em coisas tristes (e que seriam portanto mais resistentes a depressão).

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Depois os cientistas injetaram vacinas contendo o vírus da gripe enfraquecido nos dois grupos de pessoas e mediram, após 6 meses, a quantidade de anticorpos anti-gripe produzidos pelos dois grupos de voluntários. Como o vírus da gripe contem substâncias (antígenos) que o sistema imunológico humano reconhece como estranhas após algum tempo o corpo dos dois grupos de voluntários fabricaram anticorpos que neutralizavam os antígenos da gripe.

Contudo, o que os pesquisadores descobriram é que o grupo de pessoas que ativava mais o lado direito do cérebro (e que portanto supunham estar mais deprimido) haviam produzido menos anticorpos anti-gripe do que aqueles que ativavam mais o lado pré-frontal esquerdo (veja a figura ao lado).

Ou seja aparentemente o estado emocional de tristeza estava relacionado a uma menor capacidade produzir anticorpos para defender o corpo de antígenos como o vírus da gripe. Dessa forma a vacinação teria um efeito protetor menor sobre o organismo das pessoas mais deprimidas

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Existem várias explicações possíveis para essa interação. Por exemplo: 1) a tristeza prejudica nosso sistema imunológico ou 2) um sistema imunológico prejudicado produz tristeza.

Atualmente muitos pesquisadores acreditam que a hipótese 1 seja válida (o que não impede que a 2 também possa ser verdadeira). Por via das dúvidas vale a pena tentar lidar com os problemas de nosso dia-a-dia da maneira mais bem-humorada possível (alguns dias, é claro, são mais fáceis do que outros). Afinal, nosso sistema imunológico parece “ficar feliz” e nos proteger de doenças melhor quando não nos estressamos por qualquer motivo.

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